A produção de aço e ferro, espinha dorsal da infraestrutura global e do desenvolvimento, também está entre os setores mais intensivos em carbono. Anualmente, o setor é responsável por aproximadamente 24% das emissões industriais de gases de efeito estufa (GEE) e cerca de 8% das emissões globais de CO₂e (dióxido de carbono equivalente).

Este cenário exige uma reavaliação estratégica profunda, onde a descarbonização não é apenas um objetivo ambiental, mas uma necessidade imperativa para a sustentabilidade do planeta. Sem uma transformação na indústria siderúrgica, as metas climáticas globais serão inatingíveis.

Um desafio de proporções siderúrgicas

Com a grande maioria dessas emissões—cerca de 95%—provenientes de altos-fornos movidos a carvão, a transição para um futuro de baixo carbono na siderurgia depende intrinsecamente da eletrificação. Isso implica a adoção massiva de fornos elétricos a arco (EAFs) alimentados por eletricidade renovável, possibilitando a produção de aço de baixo carbono em larga escala.

A matéria-prima para esses EAFs é crucial: sucata de aço e ferro de redução direta (DRI), como ferro briquetado a quente (HBI). Quando o HBI é produzido usando energia renovável, é classificado como Ferro Verde.

O Ferro Verde (HBI) possui potencial transformador para reduzir drasticamente a pegada de carbono do setor. Estudos especializados indicam que seu uso pode levar a uma redução de até 99% nas emissões de CO2 em comparação com a metalurgia tradicional de alto-forno baseada em carvão. Isso representa um salto qualitativo para a sustentabilidade industrial e o enfrentamento da crise climática.

Aliados na jornada de descarbonização

Em um movimento estratégico para fortalecer sua economia verde, o Canadá incluiu o minério de ferro de alta pureza—essencial para a produção de ferro verde—em sua Lista de Minerais Críticos. Esta decisão, impulsionada pela demanda por descarbonização da indústria siderúrgica global, posiciona o Canadá na vanguarda do fornecimento de materiais sustentáveis.

A medida do Canadá não apenas visa garantir o suprimento para si e seus aliados, mas também incentiva o investimento e o desenvolvimento de cadeias de valor mais limpas para esses minerais estratégicos, reforçando o compromisso do país com a transição energética global.

No Brasil, a Vale e a Brazil Iron emergem como aliados estratégicos na descarbonização da indústria siderúrgica, com a promessa de produzir ferro verde (HBI) de alta qualidade para a cadeia de suprimentos siderúrgica.

A Brazil Iron, por exemplo, planeja produzir ferro verde (HBI) e ferro de baixo carbono, fornecendo matéria-prima essencial para a transição de altos-fornos baseados em carvão para fornos elétricos a arco.

O objetivo da Brazil Iron, ao produzir ferro verde para uso em EAFs, é evitar cerca de 17,5 milhões de toneladas de emissões de CO₂e por ano em comparação com as rotas tradicionais de alto-forno baseadas em carvão. Ao longo da vida útil do projeto, estima-se que aproximadamente 473 milhões de toneladas de emissões de CO₂e serão evitadas.

O objetivo de alcançar emissões líquidas zero envolve o desenvolvimento de um projeto que utilizará energia renovável, tecnologia de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) e hidrogênio verde (H2).

Um legado para o planeta

A experiência de mercado nos ensina que transformar uma indústria tão robusta e essencial não acontece sem compromisso e inovação. O papel do ferro verde é, portanto, não apenas técnico, mas também estratégico para o futuro do nosso planeta.

Reduzir as emissões em até 99% em um dos maiores poluidores industriais é um passo monumental em direção a um futuro mais seguro e sustentável. Este alinhamento entre produção industrial e metas climáticas globais é o melhor legado que podemos deixar para as futuras gerações.

Sobre o autor: Emerson Souza é o Vice-Presidente de Relações Institucionais da Brazil Iron. Ele assumiu esta posição após liderar o departamento de comunicações da empresa por dois anos.