Ferro Verde na Bahia

O projeto prevê produção de baixo carbono, a criação de até 53 mil empregos e a projeção global do Brasil na transição energética.

Ferro Verde na Bahia

Por ITM Editorial

O projeto Ferro Verde, desenvolvido pela Brazil Iron, está em andamento na Chapada Diamantina (BA) e promete transformar o cenário da mineração e siderurgia no Brasil e no mundo. Com um investimento estimado em US$ 5,7 bilhões, o empreendimento caminha para a produção de Ferro Briquetado a Quente (HBI) com emissões de carbono extremamente baixas, conhecido como ferro verde. A proposta é produzir matéria-prima adequada para a transição global dos tradicionais e altamente poluentes altos-fornos a carvão para Fornos Elétricos a Arco (FEA), que podem operar com energia de baixa ou zero emissão.

A empresa já investiu mais de R$ 1,7 bilhão na Bahia e está finalizando o Estudo de Viabilidade Bancária (EVB) do projeto, com previsão de início das obras no final de 2026. O Ferro Verde inclui três minas a céu aberto — Conceição, Jussiape e Mocó — e está localizado nos municípios de Piatã, Abaíra e Jussiape, na Bahia. O projeto destaca-se pelos seus recursos minerais certificados de 1,7 bilhões de toneladas, além de práticas inovadoras em logística, sustentabilidade e recuperação ambiental.

Segundo Rob Davies, diretor de tecnologia da Brazil Iron, a iniciativa conta com forte apoio de investidores internacionais, instituições financeiras e agências de crédito à exportação (ACEs), com o objetivo de posicionar o Brasil como líder global na produção de ferro verde — um recurso fundamental para a descarbonização da cadeia de valor do aço.

RECURSOS
Com 433 km² de direitos de mineração na Bahia, a Brazil Iron detém uma das maiores concessões de minério de ferro concedidas a uma empresa estrangeira no país.

Formações de hematita de alta qualidade estão presentes em sequências que abrangem os períodos Arqueano e Paleoproterozoico da Chapada Diamantina, estendendo-se por uma faixa de aproximadamente 60 km, garantindo escala e continuidade do depósito.

Além de mais de 100 km de perfuração exploratória concluída na região, o projeto já realizou estudos metalúrgicos em três países: Brasil, Alemanha e Reino Unido. Os resultados dessas análises, segundo Davies, demonstram consistentemente a capacidade do projeto de produzir um concentrado adequado para suportar as subsequentes operações de pelotização e produção de HBI por meio da tecnologia de Redução Direta (RD). A operação integrada inclui as minas, um ramal ferroviário de 120 km, uma planta de pelotização e uma unidade de HBI em Porto Sul, no litoral da Bahia.

Em junho de 2025, a empresa anunciou um aumento de 24% nos recursos minerais, certificados pela norma canadense NI 43-101. Os recursos totais agora somam 1,7 bilhões de toneladas, 24,08% acima dos 1,37 bilhões de toneladas verificados anteriormente.
O Estudo de Viabilidade Competitiva (BFS) está previsto para ser concluído no primeiro trimestre de 2026. A Concessão de Mineração já foi aprovada pela Agência Nacional de Mineração (ANM) do Brasil, e o projeto está atualmente em processo de obtenção da Licença de Instalação (LI) junto ao Inema (Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia). A construção está prevista para começar no final de 2026.

O financiamento de US$ 5,7 bilhões virá de uma combinação de capital próprio, dívida e apoio de agências de crédito à exportação, com o respaldo de instituições com ativos superiores a US$ 10 trilhões. Assim, segundo Davies, a empresa não tem planos atuais para um IPO.

Atualmente, o projeto emprega cerca de 240 pessoas, incluindo 133 empregos diretos.

“No pico da construção, o desenvolvimento da mina, do sistema logístico e das unidades industriais deverá gerar aproximadamente 53.000 empregos diretos e indiretos”, estima o diretor de tecnologia.

BENEFICIAMENTO
O processamento do minério seguirá estas etapas:

Britagem primária para reduzir o tamanho inicial do minério bruto (ROM)
Britagem secundária para redução adicional do tamanho, preparando o minério para moagem
Moagem para liberar as partículas de ferro
Pré-concentração por separação magnética para remover uma quantidade significativa de ganga no início do processo
Remoagem para atingir o tamanho de partícula necessário para uma flotação eficiente
Flotação para limpeza final do concentrado, removendo impurezas e produzindo minério de ferro de alta qualidade.
“Esta rota de processo produzirá pelotização com 67,5% de Fe e níveis extremamente baixos de contaminantes, tornando-a ideal para a produção de Ferro Reduzido Direto (DRI)”, garante Davies.

A operação de mineração incluirá um sistema de filtração de rejeitos, eliminando a necessidade de barragens. O material será armazenado para uso posterior no preenchimento de cavas mineradas, misturado com rocha estéril. Os 8 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de concentrado planejados serão transportados por ferrovia até as instalações portuárias, onde serão pelotizados e processados ​​para gerar HBI (ferro de alta qualidade). Segundo Davies, o DRI terá um teor de ferro de aproximadamente 94%.

Um gargalo logístico atual é a conclusão do Trecho 1 da FIOL (Ferrovia de Integração Leste-Oeste), que liga a Porto Sul. A construção deste trecho — concedida à Bamin (Bahia Mineração), outra produtora de minério de ferro no estado — foi interrompida, e as obras em Porto Sul estão atrasadas.

Davies admite que o Trecho 1 da FIOL e Porto Sul são fundamentais para o planejamento do projeto Ferro Verde, por isso estratégias alternativas estão sendo avaliadas com os governos estadual e federal para estabelecer uma estrutura logística viável.

“O Estado da Bahia oferece diversas opções portuárias que podem viabilizar um sistema integrado de mineração e produção de HBI de classe mundial, alinhado ao nosso compromisso com a sustentabilidade, a eficiência e a criação de valor a longo prazo”, afirma o executivo.

INOVAÇÃO
A logística de transporte interno parece bem resolvida. Na mina, será implementado um sistema IPCC (Britagem e Transporte na Mina), britando o minério na frente de lavra e substituindo o transporte por caminhões a diesel por correias transportadoras elétricas. Desenvolvida em parceria com a empresa alemã RWE, essa tecnologia reduz as emissões diretas (Escopo 1) de CO² equivalente e a poeira, operando com energia limpa.

Para os equipamentos auxiliares, a Brazil Iron também planeja adotar uma frota elétrica, alimentada por baterias ou equipamentos híbridos diesel-elétricos. O processo de beneficiamento foi projetado para operar inteiramente com fontes de energia renováveis, aproveitando o potencial da Bahia nessa área, apoiado por projetos eólicos e solares já em operação ou em desenvolvimento perto da mina e ao longo do corredor logístico até o porto.

No futuro, explica Davies, o projeto incorporará hidrogênio verde como agente redutor, possibilitando a produção de ferro com emissão zero de carbono e apoiando todo o processo. Descarbonização da cadeia de valor do aço.

SUSTENTABILIDADE
Segundo Rafael Genú, Gerente de Meio Ambiente, Terras e Relações com a Comunidade da Brazil Iron, as tecnologias e os programas ambientais e sociais do projeto Ferro Verde refletem o claro compromisso da empresa com o desenvolvimento regional responsável.

Na área ambiental, ele destaca o empilhamento a seco de rejeitos, o controle da emissão de poeira por meio de pulverizadores de névoa, correias transportadoras cobertas, polímeros em vias de acesso e sistemas de gestão hídrica, incluindo estações de tratamento de efluentes e esgoto, além de processos de drenagem e reúso de água para operações de mineração e industriais.

“Essas práticas não só ajudam a proteger os recursos hídricos regionais, como também garantem um uso mais racional da água – um recurso cada vez mais valioso, especialmente na Chapada Diamantina”, afirma o gerente.

Na área social, o projeto prevê a geração de até 53.000 empregos diretos e indiretos, incluindo 5.000 para moradores locais durante a construção e operação. Estudos detalhados foram conduzidos para evitar impactos no patrimônio cultural, escolas, unidades de saúde e, principalmente, para preservar cavernas classificadas como de máxima relevância espeleológica na região. a região.

As decisões de engenharia foram guiadas por critérios socioambientais, visando evitar reassentamentos forçados e proteger áreas de alto valor ecológico, como as Áreas Prioritárias de Conservação da Chapada Diamantina.

Segundo Genú, o projeto está alinhado a uma série de políticas públicas e programas governamentais estratégicos, incluindo o Plano Nacional de Mineração 2030, o programa “Luz para Todos” e mecanismos de apoio à cultura, como as Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc.

“Essa articulação institucional busca maximizar os benefícios para a população local e garantir que o crescimento econômico caminhe lado a lado com a valorização cultural, a inclusão social e a proteção ambiental, em linha com as melhores práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança) e as expectativas de um mercado cada vez mais exigente em termos de sustentabilidade”, conclui o gestor.